Governo anuncia contenção de despesas de R$ 31 bilhões e aumento de IOF

No Radar do Mercado: governo anuncia contenção de despesas e aumento de IOF que devem impactar as contas públicas. Nos EUA, Trump ameaça tarifar Europa e Apple. Veja também o quarto artigo da série Nossa Visão sobre o momento atual e a perspectiva para os próximos meses da economia do Brasil

Por Itaú Private Bank

7 minutos de leitura

O governo federal anunciou ontem, 22, uma contenção de despesas discricionárias de R$ 31 bilhões, sendo R$ 21 bilhões de contingenciamento e R$ 10 bilhões de bloqueio. O anúncio veio acima das expectativas do mercado, que variavam entre uma contenção de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões. No entanto, mesmo considerando isso, houve um aumento das despesas de R$ 5 bilhões em relação aos valores previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA), viabilizado sobretudo pela ampliação do limite de despesas de R$ 12 bilhões (devido ao diferencial da inflação de junho a dezembro de 2024) e pela previsão de R$ 7 bilhões em créditos extraordinários (ainda referentes à tragédia no Rio Grande do Sul).

O governo também passou a adotar maior realismo orçamentário nas suas estimativas. Nas receitas, foram retiradas expectativas de arrecadação com redução de litígios tributários e com concessões. Nas despesas, foram elevadas as estimativas de gastos com a Previdência e como Benefício de Prestação Continuada (BPC), diante do crescimento ainda grande de beneficiários e risco de elevação ainda maior. Além disso, o governo não incluiu no orçamento previsões de receitas extraordinárias, como com o leilão do petróleo, conforme parte do mercado cogitava que pudesse acontecer. Dessa forma, a projeção do governo se aproximou do nosso cenário e evidencia que a equipe econômica segue focando na banda inferior da meta fiscal de resultado primário, e não no centro.

A contenção de despesas anunciada ontem, no entanto, dividiu as atenções com o anúncio de mudanças amplas e relevantes sobre o Imposto de Operações Financeiras (IOF) de seguros, câmbio e crédito de pessoa jurídica. Com as medidas, o governo estimava um aumento de arrecadação de aproximadamente R$ 21 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026, cerca de 60% de aumento anualizado frente à arrecadação atual de IOF (R$ 70 bilhões). Contudo, ainda na noite de ontem, o governo recuou em relação ao IOF para a aplicação de investimentos no exterior, o que deve ter impacto de cerca de 10% no total da arrecadação prevista, segundo noticiado.

A equipe de Wealth Planning do Itaú Private Bank já enviou um material com mais detalhes sobre os dois decretos publicados pelo governo sobre o tema e seguirá mantendo os clientes atualizados.

Nossa visão: Brasil deve conviver com juros mais altos por mais tempo

Nesta semana, estamos publicando uma série de artigos aqui No Radar do Mercado com uma análise da nossa equipe de macroeconomia sobre o atual momento econômico e as perspectivas para os próximos meses das regiões mais relevantes em nossa cobertura. No episódio de hoje, confira nossa análise sobre o Brasil.

O ano tem sido marcado por dois principais temas na Zona do Euro: tarifas americanas e os pacotes fiscais aprovados – em especial, na Alemanha.

O cenário para a economia brasileira continua desafiador, em meio a um ambiente internacional permeado de incertezas e um desafio doméstico fiscal relevante.

Ainda que o governo tenha anunciado contenção de gastos e novas medidas de aumento de receita, aproximando-o de cumprir as regras fiscais deste ano, a sustentabilidade da dívida continua em foco. Nos últimos anos, temos visto um crescimento significativo das despesas públicas, seja na esfera federal ou regional, com impactos relevantes no crescimento econômico e na inflação. O ajuste fiscal, especialmente do lado do controle de gastos, portanto, é essencial para controlar a trajetória ascendente da dívida.

A atividade econômica, por sua vez, tem surpreendido ao continuar mostrando resiliência. Após um primeiro trimestre impulsionado principalmente pela agricultura, o consumo das famílias deve continuar sustentado por um mercado de trabalho sólido e medidas como o novo crédito consignado e a liberação de recursos do FGTS. Assim, há viés altista para as estimativas de crescimento do PIB entre este e o próximo ano.

Já a inflação continua pressionada e com composição ruim. O grupo de alimentação permanece como principal impacto nas leituras de inflação, mas temos visto mais pressão também vinda da parte de serviços. Um mercado de trabalho apertado deve continuar a contribuir para uma inflação de serviços mais elevada nos próximos meses. Por outro lado, um real mais apreciado, especialmente por conta do cenário externo, pode ajudar a conter os preços de itens comercializáveis. As expectativas de inflação têm mostrado alguma estabilidade, mas permanecem bem acima da meta central de 3%.

Nesse contexto, o Banco Central tem reforçado em suas comunicações a necessidade de manutenção dos juros em patamar elevado por tempo prolongado. Assim, a taxa Selic deve se manter estável em 14,75% a.a. até o final do ano. Para 2026, acreditamos haver espaço para queda da taxa de juros de forma gradual, mas ainda mantendo-a em patamar contracionista.

Confira também nossas análises sobre a China, sobre os EUA e sobre a Zona do Euro.

Trump avalia tarifas mais altas sobre União Europeia e ameaça tarifar a Apple

O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a falar sobre as tarifas recíprocas nesta sexta-feira, 23. Em publicações na sua rede social, Trump reclamou sobre a falta de avanço nas negociações com a União Europeia e ameaçou a imposição de uma tarifa de 50% sobre os produtos europeus importados pelos EUA a partir de 1º de junho. Na mesma publicação, o presidente também mencionou que “não haverá tarifa se o produto for construído ou fabricado nos EUA”.

Trump também ameaçou impor uma tarifa de importação de 25% sobre os produtos da Apple, a menos que os iPhones vendidos nos EUA passem a ser fabricados no país. Segundo ele, “há muito tempo, informei Tim Cook, [CEO] da Apple, que espero que os seus iPhones vendidos nos EUA sejam fabricados e construídos nos EUA, e não na Índia ou em qualquer outro lugar”. A declaração faz oposição ao que o CEO da empresa disse na divulgação de resultados do primeiro trimestre do ano, quando afirmou esperar que “a maioria dos iPhones vendidos nos EUA tivessem a Índia como país de origem”.

Caso entrem em vigor, as tarifas prometidas por Trump hoje teriam impacto sobre o comércio com a Europa e, consequentemente, sobre as projeções de crescimento do continente. Além disso, elevariam novamente a tarifa média de importações dos EUA, atualmente já em patamar bastante elevado, apesar dos acordos comerciais assinados recentemente com China e Reino Unido, por exemplo.

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