Eleições nos EUA: o que está em jogo e quais os possíveis impactos econômicos
No Radar do Mercado: americanos vão às urnas para definir o próximo presidente dos EUA e a nova composição da Câmara e do Senado. Resultado pode demorar a sair e definir os próximos passos da economia americana, com repercussões globais
Por Itaú Private Bank
Nesta terça-feira, os eleitores americanos vão às urnas para definir quem será o próximo presidente dos EUA e a nova composição da Câmara e do Senado. Mais de 78 milhões já votaram antecipadamente ou enviaram seus votos pelos correios nos locais onde a legislação permite. A votação será encerrada às 20h, no horário de Brasília, e, a partir disso, uma marcha de apuração deve começar até que o vencedor seja oficialmente anunciado.
Quem vai vencer?
As pesquisas de intenção de voto em nível nacional seguem dando uma ligeira vantagem para a candidata democrata, Kamala Harris. Enquanto o agregador de pesquisas do jornal “The New York Times” mostra a atual vice-presidente com 49% das intenções de voto contra 48% do ex-presidente Donald Trump, o agregador de pesquisas do projeto “FiveThirtyEight” mostra a democrata com 48,0% contra 46,8% do republicano.
No entanto, por conta da natureza indireta da votação nos EUA, os votos em nível nacional importam pouco. O foco está em conquistar a maioria dos 538 deputados que compõem o Colégio Eleitoral. Para isso, além de confirmar a vitória em estados que tradicionalmente elegem candidatos dos seus respectivos partidos, Harris e Trump precisam conquistar a maioria dos votos nos chamados swing states, onde o eleitorado não tem uma preferência clara. Nessas eleições, esses estados são Geórgia, Arizona, Winsconsin, Nevada, Michigan, Pensilvânia e Carolina do Norte.
Nesses estados, as pesquisas apontam para resultados apertados, com a diferença dentro da margem de erro em praticamente todos os levantamentos. Trump parece estar à frente no Arizona, Carolina do Norte, Geórgia e Nevada, enquanto Harris parece estar à frente em Michigan e Wisconsin. Já na Pensilvânia, os agregadores divergem. Enquanto o “The New York Times” dá vantagem ao republicando, o “FiveThirtyEight” dá vantagem à democrata. E, tudo mais constante, sem a Pensilvânia, nenhum dos candidatos consegue a maioria no Colégio Eleitoral.
Soma-se a isso dois fatores extras de imprevisibilidade. Como o voto não é obrigatório nos EUA, qualquer mudança na taxa de comparecimento dos eleitores pode mudar o resultado previsto pelas pesquisas. A eleição dos EUA costuma ser uma disputa por convencimento, mas também por engajamento dos eleitores. Além disso, em eleições passadas, as pesquisas superestimaram os votos democratas, em geral. Diante disso, os institutos tentaram corrigir essa distorção neste ano, mas não se sabe quão efetiva essa correção foi.
Quais são os cenários possíveis?
Além da disputa presidencial, também estão em jogo nestas eleições 1/3 das cadeiras do Senado e a totalidade da Câmara dos Representantes. Além de ocupar a Casa Branca, obter a maioria nas duas casas legislativas é fundamental para fazer avançar a agenda de cada candidato.
As pesquisas indicam que os republicanos estão em vantagem para obter o controle do Senado. O partido precisa “reverter” apenas duas cadeiras democratas para obter o controle da casa e as pesquisas indicam vantagem em pelo menos um dos locais em que os democratas controlam atualmente, mas mudanças de última hora e necessidade de segundo turno em alguns locais não estão descartadas.
Já na Câmara, o resultado novamente parece muito apertado. A tese comum é que a maioria na casa, atualmente controlada pelos republicanos por uma maioria estreita de 220 a 212 representantes, deve ficar com o mesmo vencedor da disputa presidencial. Por ora, as pesquisas indicam que cada partido tem cerca de 200 cadeiras “asseguradas”, o que indica que, seja qual for o resultado, a distância entre os partidos deve continuar pequena.
Esses cenários indicam que caso Kamala Harris vença a disputa presidencial, sua eleição provavelmente viria sem o controle do Congresso, o que impediria a aprovação de grandes mudanças no cenário atual. Já uma vitória de Donald Trump poderia vir acompanhada do controle das duas casas legislativas, o que facilitaria a aprovação de suas políticas econômicas. Além disso, parte da agenda do candidato republicano, como a implementação de tarifas e o controle de imigração, não precisaria passar necessariamente pelo Congresso.
Quais seriam os impactos econômicos?
A leitura da maioria dos agentes econômicos é que uma eventual vitória de Donald Trump poderia trazer mais incerteza e maior risco de erro de política econômica, diminuindo a probabilidade de um pouso suave, já que o entendimento é que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) poderia ter menos espaço para cortar juros. O republicano vem prometendo aumentar a tarifa sobre produtos importados e fazer um controle mais rígido da imigração, o que poderia trazer impactos recessivos e inflacionários, mesmo que num primeiro momento. Por outro lado, a desregulamentação prometida por Trump poderia acelerar o crescimento dos EUA e uma reforma fiscal com apoio do Congresso poderia trazer o financiamento necessário para prolongar e ampliar o corte de impostos previsto para vencer em 2026.
Já uma vitória de Kamala Harris sem o controle do Congresso impediria a democrata de fazer mudanças mais significativas e implicaria na manutenção do status quo. Nesse caso, o Fed teria mais espaço para cortar juros e promover o pouso suave. Enquanto isso, uma vitória da atual vice-presidente com maioria democrata na Câmara e no Senado teria potencial para provocar uma reação no mercado, já que está totalmente fora dos preços atuais. Boa parte das propostas de Harris nesta campanha envolvem aumentar o gasto público, em um cenário em que a dívida americana já está alta, o que provavelmente resultaria em um crescimento forte, mas taxas de juros mantidas em patamar mais alto.
Em suma, quanto mais apertada for a disputa, mais o resultado pode demorar a sair, já que a apuração pode ficar dependente de estados onde a contagem dos votos é mais lenta. Mas tanto o resultado da eleição presidencial quanto as votações para a Câmara e para o Senado serão importantes para definir os próximos passos da economia americana e os seus possíveis impactos no mundo.
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