Nossas percepções atualizadas sobre as reuniões do FMI
No Radar do Mercado: nossa economista-chefe, Gina Baccelli, traz suas percepções sobre as discussões nas reuniões do FMI. Eleições presidenciais, dívida pública e corte de juros nos EUA estão em foco
Por Itaú Private Bank
A reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial está sendo realizada nesta semana em Washington, EUA. Nossa economista-chefe, Gina Baccelli, está participando dos encontros e trouxe percepções atualizadas sobre o cenário macroeconômico discutido no encontro.
Eleição nos EUA
A leitura dos agentes econômicos segue sendo de que o ex-presidente Donald Trump vem ganhando ímpeto. Mesmo com a atual vice-presidente, Kamala Harris, ainda na frente na média das pesquisas, há a percepção de que sua eleição viria acompanhada de um Congresso dividido. Por esse motivo, mais tempo tem sido gasto discutindo cenários com a vitória de Trump, que, com ou sem o controle do Congresso, traz mais riscos com políticas de tarifas e imigração.
A vitória de Trump poderia trazer mais incerteza e maior risco de erro de política econômica, diminuindo a probabilidade de um pouso suave, já que o entendimento é que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) poderia ter menos espaço para cortar juros. O republicano vem prometendo aumentar tarifas sobre produtos importados e fazer um controle mais rígido da imigração, o que, na visão pessimista, traria impactos recessivos e inflacionários, mesmo que num primeiro momento. Já na visão otimista, a desregulamentação prometida por Trump aceleraria o crescimento dos EUA e uma reforma fiscal com o apoio do Congresso poderia trazer o financiamento necessário para prolongar e a ampliar o corte de impostos que vence em 2026.
Já uma vitória de Harris sem o controle do Congresso impediria a democrata de fazer mudanças mais significativas e implicaria na manutenção do status quo. Nesse caso, o Fed teria mais espaço para cortar juros e promover o pouso suave. Uma vitória da democrata com maioria na Câmara e no Senado, porém, teria potencial para agitar o mercado, já que está totalmente fora dos preços atuais.
Dívida pública
A trajetória da dívida pública dos EUA também tem sido pautada nos encontros. Ninguém sabe qual é o limite de endividamento de um país com as características dos EUA, mas o consenso é que o crescimento insustentável do endividamento eventualmente será questionado pelo mercado e que o financiamento da dívida está cada vez mais nas mãos de agentes sensíveis a preço. Com o tempo, o aumento do endividamento deve começar a pressionar o custo de financiamento, e o Tesouro americano precisará criar produtos para expandir a demanda por dívida. A boa notícia é que existe espaço para melhorar a situação fiscal, já que a relação Receita/PIB é baixa em comparação aos pares, mas falta consenso político para aumentar impostos.
Federal Reserve
As incertezas sobre a trajetória de crescimento dos EUA também recaem sobre os próximos passos do Fed. A autoridade monetária continua dependente da evolução dos dados, mas números recentes mostram que o risco de recessão é baixo, reduzindo espaço para cortes de juros. Existe um entendimento de que o comitê está dividido e é possível que uma pausa seja feita no final do ano, se os dados continuarem fortes ou a incerteza quanto à inflação aumentar. Uma discussão sobre qual seria o nível do juro longo em um cenário de juros básicos mais altos por mais tempo já começa a ser feita.
Conflitos geopolíticos
No que diz respeito às guerras em andamento, os agentes econômicos acreditam que é baixa a possibilidade de um cessar-fogo no curto prazo. Os envolvidos, por diversas razões, querem ou precisam que os conflitos continuem. No Oriente Médio, a política doméstica de Israel impede um acordo e o Hamas está sem liderança para negociar. No caso do Irã, Israel enxerga uma oportunidade de reduzir a ameaça iraniana e não deve voltar atrás.
Já na Europa, Putin acredita que está ganhando a guerra e não tem incentivo para negociar. Entretanto, os mais otimistas com uma vitória de Trump acreditam que ele seria capaz de fazer a Ucrânia aceitar perder territórios para encerrar o conflito.
Os agentes também concordam que existe uma complacência no mercado de petróleo. Os estoques estão mais baixos do que o normal e os mercados enxergam um equilíbrio entre oferta e demanda como se estivéssemos em um período normal. Com o prolongamento dos conflitos, no entanto, qualquer desdobramento pode desencadear grandes oscilações nesse mercado.
Por fim, também há um consenso de que a China vai invadir Taiwan, mas ainda não há data definida. O país está em disputa existencial com os EUA e as medidas protecionistas implementadas tanto por Trump quanto pelo atual presidente, Joe Biden, dividem o mundo em dois blocos: aqueles que importam e aqueles que não importam da China. Produtos chineses de boa qualidade com preço baixo, no entanto, tornam a competição difícil. A China pode, inclusive, desvalorizar sua moeda, se a pressão no comércio for grande, o que pressionaria outros emergentes, como o Brasil.
Private Talks
Já conhece o nosso novo podcast Private Talks? O segundo episódio já está no ar e conta com a participação de Stelleo Tolda, uma das mentes por trás do Mercado Livre, a empresa mais valiosa da América Latina. Confira:
💬 O que achou deste conteúdo?
Leia também
Leia também
Reuniões do FMI discutem perspectivas para a economia dos EUA
No Radar do Mercado: nossa economista-chefe, Gina Baccelli, está em Washington e traz [...]
FMI projeta crescimento global de 3,2% em 2024 e 2025
No Radar do Mercado: Fundo Monetário Internacional divulgou relatório em que classifi [...]
Stelleo Tolda, uma das mentes por trás do Mercado Livre
Private Talks: confira o 2º episódio do nosso podcast e conheça a história inspirador [...]