Revisão de Cenário: dólar mais fraco globalmente e melhora no Brasil travada por tarifas
No Radar do Mercado: equipe de macroeconomia do Itaú BBA divulgou revisões de cenário econômico em âmbito local e global. Enquanto isso, Relatório Focus mostrou alterações no câmbio, além de PIB e IPCA, e Trump anunciou tarifas sobre México e Europa
Por Itaú Private Bank
Revisão de Cenário - Brasil
A política fiscal expansionista e comercialmente protecionista dos EUA tem favorecido um dólar mais fraco globalmente. Isso, somado à redução das tensões geopolíticas, contribuiu para a valorização de ativos de países emergentes, entre eles o real. Não fosse o anúncio de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA, tal tendência deveria se aprofundar à frente. Com forças atuando em direções opostas, a equipe de macroeconomia do Itaú BBA manteve a projeção de câmbio em R$ 5,65 para 2025 e 2026.
Para o PIB, a projeção foi mantida em 2,2% em 2025 e 1,5% em 2026, mas com revisão do balanço de riscos de neutro para baixista neste ano, refletindo o desempenho mais fraco da atividade no segundo trimestre e o impacto das tarifas impostas pelos EUA. Em relação ao mercado de trabalho, as estimativas da equipe do Itaú BBA são de taxa de desemprego de 6,4% em 2025 e 6,9% em 2026.
A equipe também revisou a projeção para o IPCA de 2025 de 5,3% para 5,2%, levando em consideração a queda no preço dos alimentos, parcialmente compensada por reajustes na energia elétrica e loterias. Para 2026, a projeção foi mantida em 4,4%. Já a projeção de resultado primário foi mantida em -0,6% em 2025 e revisada de -0,8% para -0,9% em 2026, dado que a perda de receita com o IOF deve ser compensada por leilões extraordinários do excedente do pré-sal neste ano, mas ainda não há compensação imediata para 2026.
Por fim, dada a incerteza elevada e os efeitos defasados da política monetária, o time de economia do Itaú BBA acredita que o Copom deve ter encerrado o ciclo de alta da Selic na última reunião em 15,00% ao ano e projeta o início do ciclo de cortes apenas no 1º trimestre do próximo ano, encerrando 2026 com a taxa em 12,75%.
Revisão de Cenário - Global
No ambiente global, a leitura da equipe de economia do Itaú BBA é de que, diante da piora do cenário fiscal dos EUA, da política errática de tarifas, dos riscos geopolíticos e do ataque à independência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), enquanto o crescimento do resto do mundo segue estável, o cenário continua sendo de dólar fraco globalmente, com revisão da projeção da cotação do euro de US$ 1,12 para US$ 1,20 ao final do ano. Além disso, a expectativa é de apenas mais um corte de juros por parte do Fed (em dezembro), com o mercado de trabalho ainda resiliente e incerteza sobre o impacto do choque tarifário na inflação.
Na Europa, a projeção de crescimento em 2025 se manteve em 0,8% e foi reduzida de 1,5% para 1,2% em 2026, com expectativa de implementação mais lenta dos gastos alemães em defesa. Já na China, as projeções de crescimento foram mantidas em 4,5% em 2025 e 4,0% em 2026. A leitura é de que a atividade resiliente com exportações ex-EUA e implementação do pacote fiscal já programado reduzem a necessidade de estímulos adicionais. Enquanto isso, a América Latina segue sendo influenciada pela incerteza tarifária.
Focus traz revisões no IPCA, PIB e câmbio em diferentes prazos

O Banco Central divulgou nesta segunda feira, 14, uma nova edição do Relatório Focus e, mesmo após o anúncio das tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA, o relatório mostrou um recuo na mediana do mercado para o câmbio em todos os períodos observados. Além disso, o Focus trouxe mudanças nas projeções para o PIB de 2026 e uma pequena queda na expectativa da inflação em 2025.
Começando pelo IPCA, a mediana das projeções para 2025 oscilou de 5,18% para 5,17%, ainda bem acima do teto do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual ao redor da meta de 3,0% ao ano definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2026, a estimativa se manteve em 4,50%, no limite do teto, e para 2027, 4,00%, dentro da banda superior da meta. Já a expectativa para a inflação de 12 meses à frente voltou a cair, saindo de 4,68% para 4,65%.
Sobre o PIB, o relatório do Banco Central apresentou um aumento da expectativa para 2026, com a mediana subindo de 1,86% para 1,89%. Enquanto isso, as projeções para 2025 e 2027 se mantiveram em 2,23% e 2,00%, respectivamente.
Em relação ao câmbio, as estimativas para 2025, 2026 e 2027 recuaram. Para este ano, a estimativa recuou de R$/US$ 5,70 para R$/US$ 5,65. Em 2026, o câmbio projetado recuou de R$/US$ 5,75 para R$/US$ 5,70, enquanto para 2027 a expectativa caiu de R$/US$ 5,75 para R$/US$ 5,71.
Por fim, as expectativas para a taxa Selic em 2025 ficaram estáveis, com manutenção em 15,00% a.a. até o final deste ano, mas com recuo para 12,50% a.a. em 2026 e para 10,50% a.a. em 2027.
Trump aumenta tarifas contra UE e México
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou neste sábado ,13, uma nova leva de tarifas, agora direcionadas ao México e à União Europeia (UE). Caso sejam aplicadas de fato, a nova medida levaria a alíquota sobre produtos mexicanos fora do escopo do acordo USMCA de 25% para 30%, e sobre produtos da União Europeia de 10% para 30%. Dado o peso desses dois blocos na balança comercial americana, estima-se que essas medidas elevariam a tarifa de importação média dos EUA de 19,3% para 22,5%.
A implementação das tarifas sobre México e UE está prevista para 1º de agosto, assim como a dos demais anunciados até o momento, caso não haja acordo entre as partes até lá. Em busca disso, a UE suspendeu a implementação de medidas retaliatórias, sinalizando que está disposta a dialogar. Mas é possível que eventuais sinais de desescalada venham a aparecer apenas mais próximo da data-limite, dado que Trump parece ter vantagem tática no curto prazo em meio a um ambiente macroeconômico e geopolítico favorável.
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