Trump anuncia tarifas, enquanto Payroll e indústria brasileira decepcionam

No Radar do Mercado: Donald Trump anunciou novas tarifas recíprocas e adiou o prazo para aplicação. Enquanto isso, dados do payroll de julho nos EUA e da produção industrial brasileira de junho vieram abaixo das expectativas do mercado

Por Itaú Private Bank

5 minutos de leitura

Payroll registra criação de vagas abaixo do esperado

O Payroll, relatório de folha de pagamentos do Departamento do Trabalho dos EUA, indicou a criação de 73 mil vagas de emprego em julho, bem abaixo da mediana das expectativas (104 mil). O resultado acabou representando uma aceleração frente ao mês de junho, quando o indicador registrou a criação de 14 mil vagas, um dado revisado expressivamente dos 147 mil divulgados anteriormente.

A taxa de desemprego, por sua vez, avançou frente a junho, saindo de 4,1% para 4,2%, em linha com a expectativa do mercado. A taxa de participação da força de trabalho recuou levemente, para 62,3%. Na parte de rendimento, o ganho por hora trabalhada cresceu 0,2% na comparação mensal, mantendo o ritmo observado em meses anteriores, com o salário médio chegando a US$ 36,30.

Nossa visão: a forte revisão para baixo de dados anteriores e a abertura de vagas muito abaixo do esperado mostram um quadro de moderação relevante no mercado de trabalho norte-americano. Diante de uma perspectiva de enfraquecimento do emprego maior do que o antecipado, a decisão da próxima reunião do Federal Reserve deve ficar mais em aberto, e dependente das próximas da evolução dos dados até lá.

Trump anuncia novas tarifas comerciais, mas adia prazo para aplicação novamente

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou na noite desta quinta-feira, 31 de julho, uma ordem executiva que define novas tarifas recíprocas para dezenas de países e territórios, com vigência, em sua maioria, a partir de 7 de agosto. As tarifas variam entre 10% e 41%.

Os países foram divididos em quatro grupos. Para alguns países, como Reino Unido (10%), Japão (15%) e integrantes da Zona do Euro (15%), o decreto apenas oficializou as tarifas que já haviam sido anunciadas. Para cerca de 90 outros países, como Argentina, Chile, Colômbia e Paraguai, as tarifas foram mantidas em 10%. China (30%) e México (25%) foram colocados em um grupo que ainda negocia acordos. Já países como Brasil (50%), Canadá (35%), Suíça (39%) e Índia (25%) foram colocados em um grupo penalizado, sobre os quais as tarifas aumentaram.

No geral, as alíquotas divulgadas ficaram abaixo do anunciado no chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril, mas acima do que ficou estabelecido durante a trégua também anunciada durante o mês de abril. Entre os países que negociaram acordos comerciais ou sofreram novas imposições unilaterais por parte dos EUA, os 15% viraram uma espécie de “novo piso” – exceção feita ao próprio Reino Unido. Com o adiamento da aplicação dessas alíquotas em uma semana, no entanto, há alguma expectativa de que novos acordos sejam firmados.

No caso do Brasil, a situação não mudou do anunciado na quarta-feira, 30. O total de tarifas a serem aplicadas sobre os produtos brasileiros será de 50% a partir de 6 de agosto, mas há uma lista com 694 exceções, incluindo metais, suco de laranja, petróleo e derivados e aeronaves, fazendo com que a alíquota média sobre o Brasil fique próxima de 30% (ante 40% antes das exceções) e o impacto no PIB seja reduzido. Ainda assim, cerca de 35% das exportações brasileiras aos EUA serão afetadas pela alíquota cheia.

Produção industrial avança 0,1% em junho

Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de junho divulgada hoje, 1º, pelo IBGE, a produção industrial brasileira teve leve alta de 0,1% em junho frente a maio, na série com ajuste sazonal, após dois meses consecutivos de queda. O resultado veio abaixo da mediana do mercado (0,4%). Em relação a junho de 2024, houve queda de 1,3%.

Entre as quatro grandes categorias econômicas pesquisadas, apenas bens de capital (1,2%) e bens de consumo duráveis (0,2%) avançaram na passagem mensal. Já bens intermediários (-0,1%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-1,2%) tiveram queda, este último registrando terceiro mês consecutivo de recuo.

No total, 17 dos 25 ramos industriais tiveram alta, com destaque para veículos automotores (2,4%), metalurgia (1,4%) e produtos de borracha e plástico (1,4%). Já os principais recuos vieram de indústrias extrativas (-1,9%), alimentos (-1,9%) e derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,3%), que, juntos, representam cerca de 45% da indústria.

Nossa visão: o resultado de junho mostra um crescimento modesto, insuficiente para compensar as perdas acumuladas nos meses anteriores. Assim, no 2T25, a produção industrial subiu 0,1%, com queda de 0,7% na manufatura e alta de 4,8% na extrativa/mineração. Essa perda de fôlego da indústria deve permanecer nos próximos meses.

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